segunda-feira, 11 de novembro de 2019

GERMINAL




 Passou. A vida é assim: é o temporal que chega,
 Ruge, esbraveja e passa, ecoando, serra a serra,
No furioso raivar da indômita refrega
 Que as montanhas abala e os troncos desenterra.

 Mas o pranto, afinal, que essa cólera encerra
Tomba: é a chuva que cai e que a planície rega;
 E a cada gota, ali, cada gérmen se apega
Fecundando, a minar, toda a alagada terra.

Também o coração do convulsivo aperto
 Da dor e das paixões, das angústias supremas,
 Sente-se livre, após, a um grande choro aberto.

 Alma! já que não é mister que ansiosa gemas,
Alma! fecunda enfim nas lágrimas que verto,
 Possas  tu germinar e florescer em Poemas!

  Emilio de Menezes
de Poemas da Morte

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