sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

XXVI




 Eu  sei que só as lutas do ideal da verdade são legítimas.
Fiz-me timoneiro do meu barco para bem conduzir o destino e navego pelo mar da ilusão.
As tempestades vencidas me trouxeram cansaço e as distâncias conquistadas me enriqueceram de tédio.
Agora, sentindo a minha desdita, tomas em tuas mãos o meu leme e me pedes para confiar.
O que eu deveria ter feito, tu o farás num momento.
Tu apagas a minha lâmpada de luz bruxuleante e acendes o teu sol de imortalidade sobre o meu corpo  que tomba inerte.
Esta viagem será de curso rápido e duração sem limite pelo novo oceano por onde me conduzes, meu amo, minha verdade eterna, e eu me acalmo feliz.

Rabindranath Tagore
de Estesia 
Divaldo Franco Franco pelo espírito de Rabindranath Tagore
arte Amanda Cass


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

O SEGREDO



O amor não tem nada o que ver
com os cinco sentidos ou as seis direções;
o seu único objetivo é experimentar
a atração exercida pelo Amado.

Depois, quem sabe, Allah permitirá
que os segredos sejam revelados.
Então, os segredos serão contados com a mesma eloquência
das metáforas mais confusas.

É que o segredo não partilha sua intimidade
com ninguém mais, ninguém
além do conhecedor do segredo.
Aos ouvidos de um descrente
o segredo não é segredo algum.

Rumi

EU E VOCÊ



Na verdade nós somos uma só alma,
eu e você.
Nos mostramos e escondemos,
você em mim,
eu em você.

Eis o sentido profundo da nossa relação:
é que entre você e eu
não existe nem eu
nem você.

Rumi
Arte Dorina Costras


FÉ E RAZÃO



A etimologia da palavra “fé” nos traz duas origens não necessariamente complementares. A primeira deriva do grego pistia e quer dizer “acreditar”. Este é o significado mais usual, entretanto ainda incompleto, pois não basta crer, é necessário também compreender a razão pela qual se crê. Esta é a chamada fé raciocinada. Antes de ser uma contradição, como podem pensar alguns, o uso da razão solidifica a fé, pois ao analisarmos o objeto de nossa fé, compreendo-o e aceitando-o, estamos criando alicerces que tornarão nossa fé inquebrantável, fortalecendo-nos frente aos desafios mais árduos. Por outro lado, a fé sem a razão é frágil, está sujeita a ser desfeita e pode, frente ao menor abalo, desmoronar. Ou ainda pior, esta fé irracional pode nos conduzir ao fanatismo, a negação de tudo que seja contra o nosso ponto de vista. Por não ser oposta a razão, a pistia é por si mesma não dogmática e, portanto, perfeitamente compatível com o ceticismo.

Mas temos uma outra origem da palavra “fé”, derivada do latim fides, que também possui o sentido de acreditar, mas agrega a este o conceito de fidelidade, ou seja, é necessário que sejamos fieis ao objeto de nossa fé. Falando em fé religiosa, estamos falando em Deus, portanto é preciso que sejamos fieis a Deus e isto só é possível seguindo os seus preceitos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos”.

No entanto, é preciso tomar muito cuidado na definição deste Deus, pois muitas vezes as pessoas de fé seguem o deus definido pelo discurso eclesiástico, quando o caminho da espiritualidade nos leva a busca de nossa própria definição de Deus. E isso nos leva ao contraponto do segundo tipo de interpretação preconceituosa...

 Crédito Blogger:   Textos para Reflexão
Arte Liliya