sábado, 9 de novembro de 2019

A INFÂNCIA REDIMIDA


A alegria, crio-a agora neste poema.
Embora seja trágica e íntima da morte
a vida é um reino - a vida é o nosso reino
não obstante o terror, o êxtase e o milagre.

Como te sonhei, Poesia!, não como te sonharam...
Escondo-me no bosque da linguagem, corro em salas
de espelhos.
Estou sempre ao alcance de tudo, cheio de orgulho
porque o Anjo me segue a qualquer parte.

Tenho um ritmo longo demais para louvar-te,
Poesia.
Maior, porém, era a beira da praia de minha cidade
onde, menino, inventei navios antes de tê-los visto.
Maior ainda era o mar
diante do qual todas as tardes eu recitava poemas
festejando-o com os olhos rasos d'água e às vezes
sorrindo de paixão.
porque grande é descobrir-se o mar, vê-lo
existir no mundo.
Ó mar de minha infância, maior que o mar de
Homero.

Brinco de esconder-me de Deus, compactuo com as
fadas
e com este ar de jogral mantenho querelas com a
morte.
Depois do outro lado, há sempre um novo outro
lado a conquistar-se...
Por isso te amo,Poesia a ti que vens chamar-me
para as califórnias da vida.
Não és senão um sonho de infância, um mar visto
em palavras .


Lêdo Ivo
In O Oceano Roubado
arte Lienkie Lombard

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