quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ORAÇÃO DE NATAL


Acordo. Escuto o sino das igrejas. A do Rosário a da Boa Morte têm as portas abertas e os altares iluminados. O Rio Vermelho rola confuso suas águas engrossadas e crespas. Vai uma chuva mansa e leve pela cidade tranquila. Os morros escuros vestiram alvas de névoas. Passa gente na ponte conversando coisas simples e retas, demandando as igrejas para a missa da meia-noite.
A criança vai chegar. A esperança e a certeza de sua vinda, vinte séculos passados, ainda têm força de emocionar os corações. Mais ou menos mal, a humanidade ainda se prepara para o advento. Os que viajam, os que chegam, os que abraçam, os que presenteiam, os que surpreendem as crianças, os que se lembram dos pobres, o fazem em vosso nome.
Natal! Pequena pausa no ódio, no rancor, na indiferença, no desconhecimento do semelhante. Natal! Um minuto fulgurante para os corações que logo se fecham com a chave do egoísmo. Mas o milagre desse minuto é vosso, Menino Jesus.
Nascestes do desconforto de um abrigo de animais. A cidade rumorosa sem sequer percebeu vossa chegada. Mas vossa estrela foi vista e acompanhada pelos humildes. Nascia com a estranha criança um mundo novo e nova esperança para aqueles que nada esperavam.
Trinta anos mais tarde, aquele infante rasgaria um horizonte para os derradeiros escravos e humilhados: “os últimos serão os primeiros”. Sublevação da ordem natural demandando a cruz.
Sereis os primeiros, vós que nada tendes senão braços e músculos de trabalho para os poderosos de todos os tempos e nervos doloridos para a crueldade dos castigos. Dois mil anos decorridos vive ainda, nos corações, a promessa divina. Vinde a mim vós todos que estais em aflição e eu vos aliviarei.
Menino Jesus, o povo eleito esperou pela vossa presença quatro mil anos. Os profetas passavam e desapareciam afirmando a vossa vinda. As mulheres ansiavam pela maternidade na esperança de que seus ventres saísse o prometido. E o privilégio se realizou naquela noite remota que a igreja exalta e que a humanidade comemora de forma incompleta como tudo que é humano.
Venceram-se os quatro domingos do Advento, simbolizando os quatro mil anos da vossa espera pelos que esperavam. Chegastes pequena criança com o vosso destino traçado de pobreza, incompreensão e perseguição pelo mesmo povo que vos aguardou ansioso. Nem pudestes crescer os vossos e na sombra das figueiras de Nazaré, na casa tranquila do carpinteiro. Fostes levado em fuga dos poderosos, já receando a vossa pequenina sombra que mais tarde acolheria todos os desgraçados e oprimidos.
Menino Jesus, há tempos fizestes renascer os sonhadores da redenção social, todos os mártires da desigualdade humana, mas nem o menino de Belém alcançou a unanimidade no tema. Nem a pregação dos evangelistas, nem o verbo de João Batista, nem o sacrifício da cruz.
Senhor Menino, olhai bem vosso mundo e contemplai de perto os homens, feitos à imagem e semelhança de vosso Pai.
Menino Jesus, nesta noite de Natal, tão distante dos meus, abençoai o lar de meus filhos e sede guia e luz de meus netos. Acertai os passos de meus filhos e levantai o destino de meus netos e de todos os netos de todos os avós. Levai vossa presença aos desesperados, consolai os descrentes. Mostrai o vosso caminho aos marginais de todas as cidades e detei os criminosos com vossa mão de infante. Levai os homens do governo para o acerto e para a justiça. Afastai o perigos das guerras e fazei com que os chefes de Estado possam ser compreendidos uns dos outros. Desarmai os fortes em benefício dos fracos e consolai, Senhor, os que vivem na solidão.
Fazei, menino Jesus, com que as comemorações do vosso dia entre as criaturas não se façam apenas com estes pequenos símbolos de auxílio dos que podem para aqueles que nada têm.
Fazei, pequena e poderosa criança, com que os pobres, se lembrem sempre de que a parte deles será recebida na casa de vosso Pai. Fazei com que os poderosos da sua terra não se esqueçam de que já estão recebendo sua parte.

Cora Coralina
Do Livro Villa Boa de Goyaz


domingo, 16 de novembro de 2014

ORAÇÃO CELTA DO AMOR

 

Que jamais, em tempo algum,
o teu coração acalente ódio.
Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições de vida.
Que a musica seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa, que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente, para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço, e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores, o teu viver e a tua passagem pela vida, sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome. Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalento secreto, viajando eternamente no centro do teu ser.
Que a estrada se abra à sua frente.
Que o vento sopre levemente às suas costas.
Que o sol brilhe morno e suave em sua face.
Que respondas ao chamado do teu Dom e encontre a coragem para seguir-lhe o caminho.
Que a chama da raiva te liberte da falsidade.
Que o ardor do coração mantenha a tua presença flamejante e que a ansiedade jamais te ronde.
Que a tua dignidade exterior reflita uma dignidade interior da alma.
Que tenhas vagar para celebrar os milagres silenciosos que não buscam atenção.
Que sejas consolado na simetria secreta da tua alma.
Que sintas cada dia como uma dádiva sagrada tecida em torno do cerne do assombro.
Que a chuva caía de mansinho em seus campos...
E, até que nos encontremos de novo...
Que os Deuses lhe guardem na palma de Suas mãos.
Que despertes para o mistério de estar aqui e compreendas a silenciosa imensidão da tua presença.
Que tenhas alegria e paz no templo dos teus sentidos.
Que recebas grande encorajamento quando novas fronteiras acenam.
Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração, e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum, tu esqueças da Presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!
 
arte Felix Mas

sábado, 8 de novembro de 2014

A VIDA ESCREVE


Sim, a vida escreve em toda parte aquilo que pensamos.
O caderno em branco chama-se Tempo.
E nós somos autores de todos os capítulos que se desenrolam
por fatos vivos, no livro da Eternidade.
Aqui a tragédia assombra.
Ali, o drama chora.
Além, a comédia ri.
Adiante, o poema enleva.
Anota, desse modo, aquilo que desejas, de vez que a
vida expressa tudo quanto queremos.
Contadora divina, soma os atos, subtrai influências, 
multiplica valores, divide compromissos e  dá-nos a equação
de tudo quanto é hoje, a fim de que saibamos o que seja Destino,
para nós, amanhã. 
 
In A Vida Escreve
Francisco C. Xavier e Waldo vieira
pelo espírito Hilário Silva
arte Jacob Von Hogflume