sábado, 30 de abril de 2011

"TUDO É SISTÊMICO" - ENTREVISTA COM LEONARDO BOFF





"Os tempos atuais são dramáticos. Isso não representa ainda uma tragédia anunciada. Mas significa seguramente uma grande crise de civilização".

O comentário é do teólogo e filósofo Leonardo Boff em entrevista exclusiva a Ana D´Angelo do Brasil de Fato, 21-03- 2011.
Eis a entrevista.

Como escutar o grito da Terra em um sistema político-econômico surdo para o que não é veloz, lucrativo e produtivo?

Há uma confrontação total entre o sistema econômico vigente e o sistema-vida e o sistema-Terra. Aquele busca a produção cada vez maior em vista do consumo que exige a depredação da Terra e como consequência a produção de perversas desigualdades sociais. Estes visam o equilíbrio de todos os fatores para que a Terra possa manter sua capacidade de reposição dos recursos usados por nós e de integridade de sua natureza. O primeiro tem essa preocupação: quanto posso ganhar? O segundo: como posso produzir em equilíbrio com a natureza e preservando sua vitalidade? Enquanto essa equação não se resolver o grito da Terra nunca será ouvido. E a degradação continuará até um limite não mais suportável que se revela pelo aquecimento global. Aí a humanidade deve resolver: ou mudar ou ir desaparecendo.

A sustentabilidade tem sido usada por vários setores da sociedade para indicar falsas preocupações ambientais, produtos que se autodenominam verdes, empresas que se dizem responsáveis socialmente, mas não o são para com empregados, clientes etc. Frente ao consumo em escala gigantesca, o termo sustentabilidade ou a causa ambiental não estariam sendo absorvidos por um modo de produção que se mostrou fracassado e agressor da vida?

A sustentabilidade e o crescimento econômico obedecem a lógicas diferentes. A sustentabilidade pressupõe a interdependência de todos com todos, a cooperação e a coevolução de todos, respeitando cada ser por possuir valor intrínseco. O crescimento econômico é linear, pressupõe a dominação da natureza e o uso utilitarista dos seres que apenas tem sentido na medida em que se ordenam ao ser humano. A sustentabilidade representa um novo paradigma que se opõe ao paradigma de violência contra a natureza. Exige um novo acordo de sinergia, de respeito e de sentimento de pertença à natureza sendo a parte consciente e responsável dela. A utilização que se faz da sustentabilidade pode melhorar alguns aspectos da redução de gases de efeito estufa, mas não muda a lógica de pilhagem da natureza em vista da acumulação. A Terra será sempre vista como um baú de recursos, nunca como Gaia, como Grande Mãe, um superorganismo vivo que se autorregula de tal forma que sempre se faz apto a produzir e reproduzir vida.

Como cada um pode colaborar para a reversão da falência da forma de vida e produção que temos até hoje? Em entrevista por ocasião dos 70 anos do senhor, o senhor teria dito: “Nunca aceitei o mundo assim como está”.

A crise é global e por isso atinge a cada um. E cada um é convocado a dar a sua colaboração Uma gota de água caída do céu não significa nada. Mas milhões e milhões de gotas produzem um grande chuva e até uma tempestade. Devemos pensar em termos quânticos: tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e circunstâncias. Tudo se encontra inter-retro-conectado. Então, o bem que pessoalmente faço não fica reduzido ao meu mundo. Entra no circuito das interdependências e pode deslanchar grandes mudanças. Se não posso mudar o mundo, sempre posso mudar esse pedaço de mundo que sou eu mesmo. E aí pode se encontrar a semente de uma grande mudança.

Me lembro ainda de um artigo do senhor em que propunha refundar a ética diante da crise mundial de valores. Que caminhos temos hoje neste sentido?

Todos os códigos éticos atuais provêm de culturas regionais. Cada cultura produz seus parâmetros éticos para poder criar a convivência mínima entre todos. Ocorre que hoje vivemos uma fase nova da Terra e da Humanidade, a fase planetária. Todos estamos juntos na mesma Casa Comum. Ninguém tem direito de impor seus valores particulares ao todo. Por isso deve-se refundar a ética a partir de algo básico, comum a todos, de forma que todos possam se identificar com aqueles valores e princípios. Eu vejo que o eixo se estrutura ao redor dos valores ligados à vida, à Humanidade e à Mãe Terra. Para mim cinco são os valores de base: o cuidado para com todo o ser; a compaixão para com todos os que sofrem na espécie humana e na natureza; a cooperação de todos com todos porque foi a cooperação que nos permitiu o salto da animalidade à humanidade; a corresponsabilidade por tudo o que existe e vive; devemos ter consciência das conseqüências de nossos atos, alguns dos quais podem ser letais para toda a espécie humana; um senso mínimo espiritual segundo o qual a vida tem sentido, o universo não é absurdo, a verdade sempre representa um valor e o amor é o laço que une todos os seres e traz felicidade à vida.

Um fórum chamado Geopolítica da Cultura, realizado em novembro de 2010 na Cinemateca, em São Paulo, partiu do pressuposto que as novas economias reunidas no Bric já emergiram e a elas caberá definir o novo papel no mundo que se conforma pós-crise. O senhor acredita nessa possibilidade de gestão autônoma e criativa dos ex-emergentes? O Fórum propôs ainda uma transformação da singularidade cultural brasileira em valor estratégico que beneficie o povo. Pouco depois do final do Fórum, vimos explodir o conflito do tráfico e milícias e polícia no Rio de Janeiro. Ou seja, no outro extremo, outra singularidade brasileira, a violência, tomou a cena. Gostaria que o senhor comentasse.

Os Brics são importantes porque, formando o Grande Sul, quebram a hegemonia do Norte e obrigam as potências econômicas e militaristas a ouvi-los. Na medida em seu peso se fizer sentir, podem definir certos rumos do curso da história atual. Mas em termos de paradigma eles são miméticos: imitam as lógicas de potências ocidentais, lógicas essas que levaram a Terra à atual crise. Elas não são alternativas. Antes, podem acelerar a gravidade da crise. Se a China e a Índia quiseram consumir como o Ocidente (e cada um desses países possui uma classe média de pelo menos de 300 milhões de pessoas) seguramente irão desestabilizar o processo produtivo da Terra, com reflexos imediatos na política mundial. Esta não terá suficientes recursos para atender às demandas desses novos consumidores. Já dizia Gandhi em 1950: “Se a Índia quiser ser como a Inglaterra, ela precisa de duas Terras. A Terra é suficiente para todos mas não o é para os consumistas”.

Quanto mais informadas as pessoas e desenvolvidas as cidades, vemos uma preocupação maior com a sustentabilidade, reciclagem, reuso, alimentação orgânica, preservação dos biomas, plantio de árvores. Entretanto, valores como a solidariedade e ações coletivas ainda encontram obstáculos em sociedades/cidades cada vez mais egoístas, inseguras (literalmente) e materialistas. O senhor concorda? Que caminhos enxerga para as grandes cidades e seus habitantes?

Eu acho que o problema todo se resume numa relação nova para com a natureza e a Terra. Devemos partir da constatação de que pertencemos à natureza, somos a parte consciente e amante da Terra e simultaneamente a parte desequilibradora e destruidora dela. Temos a mesma origem e teremos o mesmo destino. Então se impõe uma relação de sinergia, de respeito, de veneração, de produção do suficiente e do decente para nós e para toda a comunidade de vida que também precisa da biosfera. Se não refizermos a aliança natural para com a Terra e a natureza, poderemos ir ao encontro do pior. Possivelmente só iremos aprender e tomaremos decisões fundamentais quando grandes ameaças atingirem nosso destino e percebermos que não temos outra alternativa senão mudar: o modo de relacionamento para com todos os seres, as formas de produção e de consumo e os espaços de convivência pacífica e tolerante entre os mais diversos povos. Talvez dando espaço ao capital espiritual que não tem limites à diferença do capital material que é limitado, quer dizer, cultivando os valores da solidariedade, da convivência pacífica, do cuidado para com todas as coisas, da espiritualidade explícita como a meditação, a expressão artística e estética, o autoconhecimento e outras dimensões que formam o caráter exaurível e profundamente realizador do mundo espiritual, construiremos um outro caminho que nos leva a uma Terra da Boa Esperança (Ignacy Sachs) e a uma biocivilização.

O quão fundamental é a espiritualidade em tempos bicudos como o atual? Como manter a fé sem ilusões sobre a realidade humana?

Os tempos atuais são dramáticos. Isso não representa ainda uma tragédia anunciada. Mas significa seguramente uma grande crise de civilização. Dizem-nos os antropólogos que em tempos assim fervilham as religiões e se aprofundam os caminhos espirituais. Eles formam aquele campo da experiência humana onde se elaboram os grandes sonhos e utopias, conferindo sentido à vida e rasgando horizontes de esperança. Bem dizia Ernst Bloch: “onde há religião, há esperança”; “o verdadeiro gênese não está no começo, mas no fim”. Isso podemos verificar atualmente. A despeito do caráter fundamentalista de muitas expressões religiosas, há uma efervescência do religioso, do sagrado e do místico irrompendo em todas as partes e em todos os estratos sociais. Quer dizer, os seres humanos estão cansados de materialidade, de eficiência, de consumo e de racionalidade. O segredo da felicidade e a quietude do coração não se encontra nas ciências, nem na acumulação de poder, mas no cultivo da razão sensível e cordial, aquela dimensão do profundo humano onde medram os valores e vige o mundo das excelências. Daí nascem os sonhos e os valores que podem inspirar um novo ensaio civilizatório.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A AMIZADE EM ARISTÓTELES




Assim como os motivos da Amizade diferem em espécie, também diferem as respectivas formas de afeição e de amizade. Existem três espécies de Amizade, e igual número de motivação do afeto, pois na esfera de cada espécie deve haver "afeição mútua mutuamente reconhecida".

Aqueles que têm Amizade desejam o bem do amigo de acordo com o motivo da sua amizade; desse modo, aqueles cujo motivo é a utilidade não têm Amizade realmente um pelo outro, mas apenas na medida em que recebem um bem do outro.

Aqueles cujo motivo é o prazer estão em caso semelhante: isto é, têm Amizade por pessoas de fácil graciosidade, não em virtude de seu caráter, mas porque elas lhes são agradáveis. Assim, aqueles cujo motivo da Amizade é a utilidade amam seus amigos pelo que é bom para si mesmo; aqueles cujo motivo é o prazer o fazem pelo que é prazeroso a si mesmo; ou seja, não em função daquilo que a pessoa estimada é, mas na medida em que ela é útil ou agradável. Essas Amizades são portanto circunstanciais: pois que o objeto não é amado por ser a pessoa que é, mas pelo que fornece de vantagem ou prazer, conforme o caso.
Tais Amizades são de fato muito passíveis de dissolução se as partes não permanecem iguais: isto é, os outros cessam de ter Amizade por eles quando deixam de ser agradáveis ou úteis. Ora, a natureza da utilidade não é de permanência, mas de constante variação: assim, quando o motivo que os tornou amigos desaparece, a Amizade também se dissolve; pois que existia apenas em relação àquelas circunstâncias...

A perfeita Amizade é a que subsiste entre aqueles que são bons e cuja similaridade consiste na bondade; pois esses desejam o bem do outro de maneira semelhante: na medida em que são bons (e são bons em si mesmo); e são especialmente amigos aqueles que desejam o bem a seus amigos por si mesmo, porque assim se sentem em relação a eles, e não por uma mera questão de circunstâncias; assim, a Amizade entre esses homens permanece enquanto eles são bons; e a bondade traz em si um princípio de permanência...

São poucas as probabilidades de Amizade dessa espécie, porque os homens dessa espécie são raros. Além disso, pressupõem-se todas as qualificações exigidas, essas Amizades exigem ainda tempo e intimidade; pois, como diz o provérbio, os homens não podem se conhecer "até que tenham comido juntos a quantidade de sal necessária"; nem podem de fato admitir um ao outro em sua intimidade, muito menos serem amigos, até que cada um se mostre ao outro e dê provas de ser objeto apropriado para a Amizade.

Aqueles que iniciam apressadamente uma troca de gestos amigáveis querem ser amigos, mas não o são, a menos que sejam também objetos apropriados para a Amizade e se reconheçam mutuamente como tal: ou seja, o desejo de Amizade pode surgir rapidamente, mas não a amizade propriamente dita.


Aristóteles - filósofo grego. Nasceu em 10 de janeiro de 384 a.C. Estagira. Faleceu em 31 de dezembro de 322 a.C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos


quinta-feira, 28 de abril de 2011

SERENIDADE




Serenidade.Encantamento.
A alma é um parque sob o luar.
Passa de leve a onda do vento,
fica a ilusão no seu lugar.

Vem feito flor o pensamento,
como quem vem para sonhar.
Gotas de orvalho.Sentimento.
Névoas tenuíssimas no olhar.

Tombam as horas, lento e lento,
como quem não nos quer deixar.
Extase.Vésperas.Advento.

Ouve! O silêncio vai falar!
Mas não falou...Foi-se o momento...
E não me canso de esperar.

Henriqueta Lisboa
In Enternecimento 
foto de sfocature

quarta-feira, 27 de abril de 2011

XXXVIII - BENDITO SEJA O MESMO SOL





Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E, nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural — mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral ...

Alberto Caeiro
In O Guardador de Rebanhos
foto por  sergio boeira  

terça-feira, 26 de abril de 2011

TODA FILOSOFIA NOS LEVA A DEUS



Vejamos o que pensavam e diziam os filósofos e os grandes pensadores.CONFÚCIO, o sábio que deu à
China sua cultura moral dizia:" Há uma regra universal de conduta, que se contém na palavra Reciprocidade".Agora veja ZARATRUSTRA: 'Eu sou Zaratrusta, ensinei aos homens repelir toda a idolatria e só adorar o Senhor onisciente". E BUDA "Eu sou Gautana, o Buda.Renunciei aos direitos de nascimento e de fortuna, minha lei é a lei do perdão para todos".Vejamos o pensamento de MOISÉS: " Eu sou Moisés, o salvo das águas.Encontrei na sarça ardente o Deus que Abrão e Jacó não conheceram por seu único e verdadeiro nome: O ETERNO

Vejamos agora HERMES TRIMEGISTA: "Eu sou Hermes Trimegista, o três vezes poderoso, o possuidor da ciência do antigo Egito". E PLATÃO reafirma o seu pensamernto; " Eu sou Platão, discípulo de Sócrates, ensinei aos homens a se conhecerem a si próprios. O justo é aquele que vive em perfeita harmonia consigo mesmo, com seus semelhantes e com a ordem do universo". E JESUS DE NAZARETH: 'Eu ou Jesus de Nazareth, aquele que deu sua vida pela salvação dos homens".

MOAMÉ dizia: " Eu sou Moamé, o profeta por excelência do Islã.Ninguém pode ser chamado de verdadeiro crente, se não desejar a seu irmão o que para si deseja". Por fim , a ESTRELA que dirigiu todos os navegadores e descobridores" Eu sou o  amanhã. Sede tolerantes, porque ninguém pode definir Deus.Procurai a verdade, praticai a justiça e amai o próximo como a vós mesmos, tal é o caminho do dever, a única estrada da salvação".
Portanto,na minha maneira de pensar, posso dizer que toda filosofia nos leva a DEUS. Siga o seu caminho de acordo com a sua convicção.

"Só é livre quem trabalha e sabe viver do que produz ou ensina a produzir"

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo 
foto de tommy martin   

segunda-feira, 25 de abril de 2011

UMBANDA



Ao contrário do que muitos pensam, a diversidade do universo umbandista permite um mínimo de unidade doutrinária, de ritos, usos e costumes uniformes que caracterizam a maioria das práticas umbandistas.Pode-se afirmar, sem exclusões traumáticas, que isso ocorre ao natural na maior parte dos centros por este Brasil afora.Conheça-a :

01 - A umbanda crê em um Ser Supremo, O Deus único,criador de todas as religiões monoteístas.Os sete orixás são emanações da Divindade, como todos os seres criados.

02 - O propósito maior dos seres criados é a evolução, o progresso rumo à Luz Divina. Isso se efetiva pelas vidas sucessivas:a Lei da Reencarnação, o caminho do aperfeiçoamento.

03 - Existe uma lei de justiça universal, que determina a cada um colher o fruto de suas ações, conhecida como a Lei do Carma.

04 - A umbanda se rege pela  Lei da Fraternidade Universal: todos os seres são irmãos por terem a mesma origem, e devemos fazer a cada um aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós.

05 - A umbanda possui identidade própria e não se confunde com outras religiões ou cultos, embora a todos respeite fraternalmente, partilhando alguns princípios com muitos deles.

06 - A umbanda está a Serviço da Lei Divina e só visa ao bem.Qualquer ação que não respeite o livro-arbítrio das criaturas, que implique em malefício ou prejuízo de alguém ou se utilize de magia negativa, não é umbanda.

07 - A umbanda não realiza em qualquer hipótese o sacrifício ritualístico de animais nem utiliza quaisquer elementos destes em ritos, oferendas ou trabalhos.

08 - A umbanda não preconiza a colocação de despachos ou oferendas em esquinas urbanas, e sua reverência às forças da natureza implica preservação e respeito a todos os ambientes naturais da Terra.

09 - Todo o serviço da umbanda é de caridade, jamais cobrando ou aceitando retribuição de qualquer espécie por atendimentos, consultas ou trabalhos. Quem cobra por serviços espuiritual não é umbandista.

Ramatís
In A Missão da Umbanda
Obra psicografada por Norberto Peixoto

SABEDORIA




Uma vez perguntaram a Confúcio:
- O que mais o surpreende na humanidade?
Confúcio respondeu:
- Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
E concluiu:
- Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido...

Confúcio - China: 551 AC - 479 AC
foto de ch.kwon

domingo, 24 de abril de 2011

O MEU OLHAR




O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro



"Não podemos mais tratar a natureza e a terra como um baú de recursos, pois essa atitude pode destruir as condições da vida. Temos que assumir estrategicamente a ecologia (que não é apenas o meio-ambiente mas o ambiente inteiro), a qual nos ensina que todos somos interdependentes; que a relação para com a terra não pode ser apenas de exploração, mas de respeito e cooperação; que a pessoa humana é o primeiro destinatário do desenvolvimento. Sempre a terra cuidou de nós, dando-nos tudo de que precisávamos. Mas a ferimos tanto que agora cabe a nós cuidar dela, para que continue nos cuidando."

Leonardo Boff
In autocultura.blogspot
foto por elosoenpersona

COMO VOCÊ PODE SABER SE ALGUÉM REALMENTE LHE AMA?



Existem três camadas no indivíduo humano: sua fisiologia, o corpo; sua psicologia, a mente; e seu ser, seu eu eterno. Amor pode existir em todos os três planos, mas suas qualidades serão diferentes.

No plano da fisiologia, do corpo, é simples sexualidade. Você pode chamar isso de amor, porque a palavra 'amor' parece ser poética, bela. Mas noventa e nove por cento das pessoas estão chamando o sexo delas de amor. Sexo é biológico, psicológico. Sua química, seus hormônios – tudo que é material está envolvido nisso.

Você se apaixona por um homem ou por uma mulher. Você pode descrever exatamente porque essa mulher lhe atraiu? Certamente você não pode ver o eu dela, você ainda nem viu seu próprio eu. Você também não pode ver a psicologia dela, porque para ler a mente de alguém não é uma tarefa fácil. Então o que é que você viu nessa mulher?

Alguma coisa na sua fisiologia, na sua química, nos seus hormônios, se sente atraído pelos hormônios, pela fisiologia, pela química da mulher. Isso não é um caso de amor; isso é um caso químico. Pense bem: a mulher por quem você se apaixonou vai ao médico, muda de sexo, deixa a barba e o bigode crescerem. Você ainda fica apaixonado por ela? Nada mudou, somente a química, os hormônios. Para onde foi seu amor?
Somente um por cento das pessoas conhece um pouco mais profundamente. Poetas, pintores, músicos, dançarinos, cantores têm uma sensibilidade que faz com que eles possam sentir além do corpo. Eles podem sentir as belezas da mente, as sensibilidades do coração, porque eles próprios vivem nesse plano.
Lembre-se que isso é uma regra básica: onde quer que você viva, você não pode ver além disso. Se você vive no seu corpo, se você pensar que é somente seu corpo, você só pode ser atraído pelo corpo de alguém. Esse é o estágio fisiológico do amor.

Porém, um músico, um poeta, vivem num plano diferente. Ele não pensa, ele sente. E devido a que ele vive no coração dele, ele pode sentir o coração de outra pessoa. Isso é geralmente chamado de amor. Isso é raro. Estou dizendo talvez somente um por cento, de vez em quando.

Por que muitos não estão se movendo para o segundo plano se este é tremendamente belo? Mas há um problema: qualquer coisa muito bonita é também muito delicada. Não é um objeto duro, é feito de vidro muito frágil. E uma vez que um espelho cai e se quebra, então não há como reuni-lo novamente.

As pessoas temem se envolverem muito e alcançar as delicadas camadas do amor, porque nesse estágio o amor é tremendamente belo mas também tremendamente mutante.
Sentimentos não são pedras, são como rosas. É melhor ter uma rosa de plástico, porque ela estará sempre lá e todo dia você pode banhá-la e ela estará fresca. Você pode colocar algum perfume francês nela. Se a cor dela desaparecer você pode pintá-la novamente. Plástico é uma das coisas mais indestrutíveis no mundo. Ela é estável, permanente; assim as pessoas param no fisiológico. É superficial, mas é estável.

Poetas e artistas são conhecidos por se apaixonarem todos os dias. O amor deles é como uma rosa. Enquanto está presente ela é tão perfumada, tão viva, dançando ao vento, na chuva, no sol, declarando suas belezas. Mas à noite ela se vai, e você não pode fazer nada para impedir isso.

O mais profundo amor do coração é somente como uma brisa que chega no seu quarto, traz sua frescura, serenidade, e então se vai. Você não pode segurar o vento em suas mãos. Bem poucas pessoas são tão corajosas para viver de momento a momento, uma vida mutante. Daí, elas decidirem se entregarem a um amor do qual elas possam depender.
Eu não sei que tipo de amor você conhece – muito provavelmente o primeiro tipo, talvez, o segundo tipo. E você teme que se você alcançar seu ser, o que acontecerá ao seu amor? Certamente ele se vai – mas você não será um perdedor. Um novo tipo de amor irá surgir o qual, talvez, só acontece a uma pessoa em milhões. Esse amor só pode ser chamado de amorosidade.

O primeiro amor deve ser chamado de sexo. O segundo amor deve ser chamado de amor. O terceiro deve ser chamado de amorosidade – uma qualidade, não direcionada – não possessiva e que não permite ninguém mais lhe possuir. Essa qualidade amorosa é uma revolução tão radical que mesmo concebê-la é muito difícil.
Jornalistas têm me perguntado: "Por que tem tantas mulheres aqui?". Obviamente, a questão é relevante, e eles ficam chocados quando lhes respondo. Eles não estavam preparados para a resposta. Eu disse a eles: "Sou um homem". Eles olharam para mim, incrédulos.

Eu disse: "É natural que muito mais mulheres estejam aqui, pela simples razão de que tudo que elas conheceram na vida delas foi sexo, ou em raros casos, talvez alguns momentos de amor. Mas elas nunca chegaram a conhecer o sabor da amorosidade". Eu disse para esses jornalistas: "Mesmo os homens que vocês veem aqui desenvolveram muitas qualidades femininas neles que estavam reprimidas pela sociedade exterior".
Desde o princípio é dito a um menino: "Você é um menino, não uma menina. Comporte-se como um menino! Lágrimas caem bem numa menina, mas não para você. Seja macho". Assim todo menino vai eliminando suas qualidades femininas. E tudo que é belo é feminino.Então finalmente o que resta é somente um animal selvagem. Toda a função dele é reproduzir filhos.

A menina não é permitida ter qualquer coisa com qualidades masculinas. Se ela quiser subir numa árvore ela será impedida imediatamente: "Isso é para meninos, não para meninas!" Estranho! Se a menina possui o desejo de subir na árvore, isso é prova suficiente para ela ter permissão.
Todas as sociedades criaram roupas diferentes para os homens e para as mulheres. Isso não está certo; porque todo homem é também uma mulher. Ele veio de duas fontes: o pai e a mãe. Ambos contribuíram para seu ser. E toda mulher é também um homem. Nós destruímos ambos.
A mulher perdeu toda a coragem, aventura, raciocínio, lógica, porque essas são tidas como qualidades masculinas. E o homem perdeu a graça, sensibilidade, delicadeza. Ambos se tornaram metades. Esse é um dos maiores problemas que temos que resolver – pelo menos para nosso povo.

Meus sannyasins precisam ser ambos: metade homem, metade mulher. Isso os tornará mais ricos. Eles irão ter todas as qualidades que estão disponíveis aos seres humanos, não apenas a metade.
No nível do ser, você simplesmente tem uma fragrância de amorosidade.
Os jornalistas me perguntaram: "Você ama Sheela?". Eu disse: "É claro. Mas eu amo tantas mulheres que nem mesmo sei o nome delas. E não somente mulheres – amo tantos homens, porque eles também são metade mulher". Em um milhão de sannyasins ao redor do mundo, eu não posso apontar para uma só pessoa e dizer: "Essa é a pessoa que amo".

Só posso dizer: "Eu amo". Quem quer que esteja pronto para receber meu amor... está disponível. Então não tenham receio.

Seu medo está certo: o que você tem como amor irá embora, mas o que virá no lugar é imenso, infinito. Você será capaz de amar sem ficar apegado. Você será capaz de amar muitas pessoas porque amar uma pessoa só é manter a si mesmo pobre. Uma pessoa pode dar uma certa experiência de amor, mas amar muitas pessoas...
Você ficará surpreso que cada pessoa lhe dá um novo sentimento, uma nova canção, um novo êxtase. Consequentemente, sou contra o casamento. Na minha visão, casamentos na comuna devem ser dissolvidos. Pessoas podem viver juntas por toda a vida se quiserem, mas isso não é uma necessidade legal.
Pessoas devem se movimentar, ter tantas experiências de amor quanto possível. Não devem ser possessivos. Possessividade destrói o amor. E eles não devem ser possessivos porque isso novamente destrói ser amor.

Todos os seres humanos são dignos de serem amados. Não há nenhuma necessidade de ficar acorrentado a uma pessoa por toda sua vida. Essa é uma das razões do porquê todas as pessoas ao redor do mundo parecem tão entediadas.
Porque elas não podem sorrir como você? Porque elas não podem dançar como você? Elas estão acorrentadas com correntes invisíveis: casamento, família, marido, esposa, filhos. Elas estão sobrecarregadas com todo tipo de deveres, responsabilidades, sacrifícios. E você quer que eles sorriam e dancem e se alegrem? Você está pedindo o impossível.

Torne o amor das pessoas livre, torne as pessoas não-possessivas. Mas isso só pode acontecer se na sua meditação você descobrir o seu ser. Não é nada para se praticar. Não estou lhes dizendo: "Hoje à noite você procure uma outra mulher apenas para praticar". Você não irá conseguir coisa alguma e você pode perder sua esposa. E pela manhã você vai parecer tolo.

Isso não é uma questão de praticar, é uma questão de descobrir o seu ser. A qualidade da amorosidade impessoal segue a descoberta de seu ser. Assim você simplesmente ama.
E isso vai se espalhando. Primeiro, nos seres humanos, depois nos animais, pássaros, árvores, montanhas, estrelas. Um dia chega quando todo esse universo é seu amado. Esse é o nosso potencial. E qualquer um que não estiver realizando isso está desperdiçando sua vida.

Sim, você terá que perder algumas coisas, mas são coisas sem valor. Você estará ganhando tanto que você nunca pensará novamente no que você perdeu. Uma pura amorosidade impessoal que possa penetrar no ser de qualquer um – esse é o resultado da meditação, do silêncio, do mergulhar profundo dentro de seu próprio ser. Estou simplesmente tentando lhe persuadir. Não tenha medo de perder o que você tem.

Osho, em "Death to Deathlessness"
Fonte: Osho.com
Imagem por ajburcar

OSHO



A BIOGRAFIA DE UM MESTRE ILUMINADO

Osho nasceu em Kuchwada, Madhya Pradesh, Índia, em 11 de dezembro de 1931.

Filho mais velho de um modesto mercador de tecidos, passou os sete primeiros anos de sua infância com seus avós, que lhe davam absoluta liberdade para fazer o que bem quisesse, apoiando suas precoces e intensas investigações sobre a verdade da vida.
Desde cedo foi um espírito rebelde e independente, desafiando os dogmas religiosos, sociais e políticos, e insistindo em buscar a verdade por si mesmo, ao invés de adquirir conhecimentos e crenças impingidos por outros.
Sua intensa busca espiritual chegou a afetar sua saúde a ponto de seus pais e amigos recearem que ele não vivesse por muito tempo.

Após a morte do avô, Osho foi viver com seus pais em Gadawara. Sua avó mudou-se para a mesma cidade, permanecendo como sua mais dedicada amiga até falecer em 1970, tendo se declarado discípula do neto.

Aos 21 anos de idade, no dia 21 de março de 1953, Osho tornou-se iluminado. Com sua iluminação, ele disse que sua biografia externa terminara.

Nessa oportunidade comentou: "Não estou mais buscando, procurando por alguma coisa. A existência abriu todas as suas portas para mim. Nem ao menos posso dizer que pertenço à existência, porque sou simplesmente uma parte dela... Quando uma flor desabrocha, desabrocho com ela. Quando o Sol se levanta, levanto-me com ele. O ego em mim, o qual mantém as pessoas separadas, não está mais presente. Meu corpo é parte da natureza, meu ser é parte do todo. Não sou uma entidade separada."
Osho graduou-se em Filosofia na Universidade de Sagar, com as honras de "primeiro lugar". Na época de estudante foi campeão nacional de debates na Índia.

Em 1966, depois de nove anos limitado pela função de professor de Filosofia na Universidade de Jabalpur, abandonou o cargo e passou a viajar por todo país, dando palestras, desafiando líderes religiosos ortodoxos em debates públicos, desconcertando as crenças tradicionais e chocando o "status quo".
Em 1968, ainda com seu primeiro nome espiritual, Bhagwan Shree Rajneesh, estabeleceu-se em Bombaim, onde morou e ensinou por alguns anos.
Organizou regularmente "campos de meditação", onde introduziu a sua revolucionária Meditação Dinâmica.
Em 1974 inaugura o "ashram" de Poona, e sua influência já atinge o mundo inteiro. Ao mesmo tempo, sua saúde se fragilizava seriamente.
Osho se recolhia cada vez mais à privacidade de seus aposentos, aparecendo apenas duas vezes por dia em suas palestras matinais e, à noite, em sessões de aconselhamento e iniciação.
Em maio de 1981, Osho parou de falar e iniciou uma fase de "comunhão silenciosa de coração-a-coração", enquanto seu corpo, seriamente enfermo, com graves problemas de coluna, descansava.
Tendo em vista a possibilidade de que fosse necessária uma cirurgia de emergência, Osho foi levado aos Estados Unidos. Seus discípulos americanos compraram um rancho no deserto do Oregon e convidaram-no a ir para lá, onde recuperou-se rapidamente.

Uma comuna logo estabeleceu-se ao seu redor, formando a cidade de Rajneeshpuram.

Em outubro de 1984, Osho voltou a falar a pequenos grupos e, em julho de 1985, reiniciava seus discursos a milhares de buscadores, todas as manhãs.

Em setembro de 1985, a secretária pessoal de Osho deixa a comuna, repentinamente, seguida por vários membros da administração, vindo com isso à luz todo um conjunto de atos ilegais cometidos por esse grupo. Osho convidou as autoridades americanas para que procedessem a todas as investigações necessárias. Tirando proveito dessa oportunidade, as autoridades aceleraram sua luta contra a comuna.

Em 29 de outubro de 1985, Osho foi preso em Charlotte, Carolina do Norte, sem um mandado de prisão. Sua viagem de volta ao Oregon, onde seria julgado - normalmente um vôo de cinco horas - demorou oito dias. Por alguns dias ninguém soube do seu paradeiro.
Em meados de novembro, seus advogados aconselharam-no a confessar-se culpado por duas das trinta e quatro "violações de imigração" das quais era acusado, para evitar que sua vida corresse maiores riscos nas garras do sistema jurídico americano. Osho concordou. Foi multado e obrigado a deixar os Estados Unidos, com retorno proibido pelos próximos cinco anos.
Deixando o país no mesmo dia, Osho voou para a Índia em avião particular, onde permaneceu em repouso nos Himalaias. Uma semana mais tarde, a comuna do Oregon resolveu dispersar-se.
Nessa época, Osho enfrentou uma verdadeira "via crucis" para poder fixar-se num lugar, pois onde quer que tentasse estabelecer-se tinha sua permanência negada pelas autoridades, por visível influência do governo norte americano. Ao todo, vinte e um países o expulsaram ou negaram o visto de entrada.

Em julho de 1986 Osho voltou a Bombaim, na Índia, onde ficou hospedado por seis meses na casa de um amigo indiano. Na privacidade da casa de seu anfitrião, ele retornou aos seus discursos diários.
Em janeiro de 1987, mudou-se para o seu "ashram" em Poona, onde vivera a maior parte dos anos 70.
Imediatamente após sua chegada, o chefe de polícia de Poona ordenou-lhe que deixasse a cidade, sob a alegação de que era uma "pessoa controversa" que poderia "perturbar a tranqüilidade da cidade". Tal ordem foi revogada no mesmo dia pela Suprema Corte de Bombaim..
No seu trabalho, Osho falou praticamente sobre todos os aspectos do desenvolvimento da consciência humana. Seus discursos para discípulos e buscadores de todo o mundo foram publicados em mais de seiscentos e cinqüenta títulos e traduzidos para mais de trinta línguas.

Ele diz: "Minha mensagem não é uma doutrina, não é uma filosofia. Minha mensagem é uma certa alquimia, uma ciência da transformação; assim, somente aqueles que estão dispostos a morrer como são e a renascer em algo tão novo que agora nem podem imaginar, somente essas poucas pessoas corajosas estarão prontas a me ouvir, porque isto será perigoso. Ouvindo, você dá o primeiro passo em direção ao renascimento. Por isso, a minha mensagem não é uma simples comunicação verbal. Ela é muito mais perigosa. Ela é nada menos do que a morte e o renascimento."
De Sigmund Freud a Chuang Tzu, de George Gurdjieff a Buda, de Jesus Cristo a Rabindranath Tagore, Osho extraiu de cada um a essência do que é significativo na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas sim na sua própria experiência existencial..
Osho deixou seu corpo em 19 de janeiro de 1990.

Algumas semanas antes dessa data, foi-lhe perguntado o que aconteceria com seu trabalho quando ele partisse. Ele disse: "Minha confiança na existência é absoluta. Se houver alguma verdade naquilo que estou dizendo, isso irá sobreviver... As pessoas que permanecerem interessadas em meu trabalho irão simplesmente carregar a tocha, mas sem impor nada a ninguém..."

A comuna que cresceu à sua volta floresce em Poona, Índia, onde milhares de discípulos e buscadores se reúnem, durante o ano inteiro, para participar das meditações e dos outros programas lá oferecidos.
 

sábado, 23 de abril de 2011

MAIS UM PASSO




Caminha, vai,
dá mais um passo,
mais um, mais um...
Todas as grandes coisas
Começam pequeninas.
Toda grande jornada
começa com um passo.
Redime o pensamento de fraqueza,
Deus te guiará.
Não olhes para trás,
nem pares no caminho.
Vês lá no fim da estrada
aquele arbusto pequenino?
Não é arbusto, não,
é a árvore mais alta que encontrarás
em toda a caminhada;
é que estás longe ainda.
Dá mais um passo, mais um...
Senta-te à sombra dela e te dirá:
-Eu nasci de uma simples sementinha!

Else Sant´Anna Brum
foto de tommy martin

sexta-feira, 22 de abril de 2011

MANHÃ



Altos os troncos, e no alto os cantos:
A hora da manhã, a nós nascida,
Cobre de verde e azul o gesto simples
Com que me dás, serena, a tua vida.

Confiança das mãos, dos olhos calmos,
Donde a sombra das mágoas e dos prantos
Como a noite do bosque se retira:
Altos os troncos, e no alto os cantos.

José Saramago
In Provavelmente Alegria
foto por tommy martin

O COMPANHEIRO




"Não devias tu igualmente ter compaixão
do teu companheiro,
como eu também tive misericórdia de ti?"

 Jesus. (Mateus 18:33.)


"Em qualquer parte, não pode
o homem agir, isoladamente,
em se tratando da obra de Deus,
que se aperfeiçoa em todos os lugares.

O Pai estabeleceu a cooperação
como principio dos mais nobres,
no centro das leis que regem a vida.

No recanto mais humilde,
encontrarás um companheiro de esforço.
Em casa, ele pode chamar-se "pai" ou "filho"; no caminho, pode denominar-se
"Amigo" ou "camarada" de ideal".

No fundo, há um só Pai que é Deus
e uma grande família
que se compõe de irmãos.

Se o Eterno encaminhou ao
teu ambiente um companheiro
menos desejável, tem compaixão
e ensina sempre.

Eleva os que te rodeiam.
Santifica os laços que Jesus promoveu
a bem de tua alma e de todos
os que te cercam.

Se a tarefa apresenta obstáculos,
lembra-te das inúmeras vezes
em que o Cristo já aplicou misericórdia
ao teu espírito.
Isso atenua as sombras do coração.

Observa em cada companheiro de luta
ou do dia uma bênção e uma oportunidade
de atender ao programa divino,
acerca de tua existência.

Há dificuldades e percalços,
incompreensões e desentendimentos?

Usa a misericórdia que Jesus usou contigo,
dando-te nova ocasião
de santificar e de aprender.


In "Caminho, Verdade e Vida",
Pelo Espírito Emmanuel; psicografia de
Francisco Cândido Xavier
The Vision Legend of the 14th Century 1872


RELIGIÃO,RELIGIOSIDADE E UNIÃO



..."O perfeito é desumano,
pois o humano
não é perfeito"...

Fernando Pessoa


Falamos de Deus, assim como tantos falam de Deus: todas as religiões, baseadas no amor e na evolução do homem...

Em verdade, o Papa João XXIII tinha razão quando disse que "tudo o que nos une é muito mais importante e maior do que aquilo que nos separa" e é crível que a missão comum a todos os cristãos não seja a de propagar nossa religião em si, como fazem os anunciantes de produtos nos rádios, tvs e jornais, mas a de levar a essência da mensagem de amor ao próximo... de falar de Deus, segundo os ensinamentos do Mestre Jesus, quando disse em amar a Deus acima de tudo e ao próximo como amamos a nós mesmos...

Mais do que propagar a nossa forma de fé, devemos propagar a fé em Deus e o Seu poder de operar transformações em nossas vidas...! Cabe-nos falar e servir a Deus zelando para que nossos passos, atos e pensamentos sejam verdadeiros testemunhos do amor divino, focando o propósito maior, servir, do que nos centrarmos em nós mesmos, de modo egoísta, pequeno, limitado e desvirtuado da essência... Temos que aprender a viver com as pluralidades, neste mundo tão plural em que vivemos...

Deus é a unidade, o todo, o início, fim e meio, como tratado no Bhagavad Gita... É onisciente (tudo sabe), onipotente (é o poder) e onipresente (está em todos os lugares ao mesmo tempo)... Nós é que precisamos D`ele e tanto e tanto!

É Deus o todo e nós somos unidades da sua criação...

Nesse sentido, com razão Pietro Ubaldi quando, inspirado, escreveu:

"...Também o homem resume em si todas as consciências inferiores. Cada célula tem, por isso a sua pequena consciência, que preside ao seu recâmbio em todos os tecidos, em todos os órgãos; e uma consciência coletiva, [nosso espírito*], mais elevada, lhes dirige o funcionamento (A Grande Síntese, Página 243, Livraria Allan Kardec Editora).

Nessa linha de pensamento, sabemos que somos formados por bilhões de seres individualizados mas que não vivem de modo absolutamente "independentes", mas vivem e trabalham de modo "interdepentende", na medida em que são comandados por nossas mentes e que uma célula do corpo, em última análise, só "vive" plenamente quando todas as demais do mesmo organismo também "vivem" do mesmo modo... !

Sob outra ótica, cada "ser humano" é uma "célula" desse universo de bilhões de seres e todos só cumpriram sua "vida" plenamente se e quando "todos" viverem do mesmo modo... E que modo é esse? É um modo segundo a igualdade e a caridade e o Amor mais verdadeiro, que reflete respeito, pluralidade, igualdade, impessoalidade, oportunidade, comida, teto, abraço, afeto, carinho etc.

De mais a mais, a ideia de ser humano livre e num mundo democrático e respeitoso, traz consigo a necessidade de "liberdade de escolha", próximo à idéia conceitual do "livre-arbítrio", de sorte que cada ser humano deve ser livre para escolher a forma de religiosidade que lhe aprouver...

Devemos, afinal, dar a "vara de pescar ou o peixe"!?

Conforta pensar que devemos estar prontos para ouvir, orientar etc, mas não podemos pretender escravizar ou atemorizar quem quer que seja, para tornar alguém "dependente" dum modo de se dirigir a Deus... Nessa linha, não nos esqueçamos, também, da mensagem de Bezerra de Menezes:
“Atendei, assim, à fome do corpo; providenciai o agasalho e o remédio, sem vos esquecerdes, porém, de fazer luz para que as trevas da ignorância se desfaçam.
Se é justo cooperar com o pai de família que, de um instante para outro, se vê às voltas com o desemprego, mais justo ainda será ampará-lo com uma nova oportunidade de trabalho.

A assistência fraterna aos irmãos carentes não deve induzi-los à excessiva dependência, sob pena de viciar-lhes o espírito.
É evidente que, cada qual é encorajado pela Vida a equacionar as próprias dificuldades: a solução definitiva dos problemas que enfrenta passa, necessariamente, pela maior conscientização do homem no processo da evolução.

Filhos, não vos esqueçais, portanto de que amar é ensinar o caminho, encorajando a quem deve tomar a iniciativa de percorrê-lo.”

In http://ordembezerrademenezes-nit.blogspot./
tela de Ford Maddox Brown / Jesus Washing Peter's Feet

quinta-feira, 21 de abril de 2011

SÃO JORGE




No dia 23 de abril, devotos do mundo inteiro comemoram o dia de São Jorge. Padroeiro de Portugal, da In­glaterra e da Catalunha, São Jorge também é protetor dos soldados, militares, ferramenteiros e ferroviários.

A MARAVILHOSA HISTÓRIA DE SÃO JORGE

De acordo com registros históricos, por volta do final do século III, São Jorge nasceu na Capadócia, onde atualmente fica a Turquia, ainda criança perdeu seu pai que morreu em combate, sua mãe o levou para a Palestina, onde possuía muitos bens, educando-o de acordo com sua condição para a carreira militar. Da formação militar, que percorreu com dedicação e habilidade, qualidades que levaram o imperador Diocleciano a lhe conferir título de tribuno. Além de sua educação militar, recebeu de sua família a formação cristã, desde sua infância aprendeu a temer a Deus e a crer em Jesus como seu salvador pessoal.

Com a idade de vinte e três anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo altas funções. Por essa época, o imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão.

Defendeu com tanta ousadia a fé em Jesus Cristo como o "Senhor e Salvador dos homens", provocou a ira do imperador que tentou fazê-lo desistir torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado ao imperador, que exigia que São Jorge renegasse sua fé, o que não aconteceu.

Em cada retorno das torturas era uma pregação feita por Jorge que conquistou mais admiração e seguidores dos princípios cristãos. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito em seu plano macabro, mandou degolar o jovem e fiel servo de Jesus no dia 23 de abril de 303.

Verdadeiro guerreiro da fé, São Jorge venceu batalhas contra as forças do mal, por isso sua imagem mais conhecida é dele montado em um cavalo branco, vencendo um grande dragão. Com seu testemunho, este grande santo nos convida a seguirmos Jesus sem renunciar o bom combate.

Todavia, se de São Jorge só possuímos os atos de martírio e mais precisamente de sua paixão, não se pode esquecer que a igreja do Oriente o chama de Grande Mártir e todos os calendários Cristãos o incluem no elenco dos seus Santos. São Jorge, além de haver dado nome a cidades e povoados, foi proclamado padroeiro de cidades como: Gênova (Itália), de regiões inteiras Espanholas, de Portugal, da Lituânia e da Inglaterra.

Seguindo, pela evolução dos tempos, a bandeira de São Jorge chega a nossas terras brasileiras, trazida pelos brancos católicos, que ensinaram aos negros escravos e índios a sua história. O negro escravo, que não possuía a liberdade de cultuar seus orixás, associava as qualidades e virtudes dos santos com as suas crenças e fundamentos, portanto devido à bravura, o espírito de guerreiro, determinado em sua fé São Jorge tornou-se Ogum, e assim ficou firmado o sincretismo.

O tempo passou, e num momento do início do século XX, a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, tornou oficial a Umbanda, religião brasileira, o branco, o negro e o índio, como acontece com nosso povo mestiço. A partir desse momento, a visão umbandista alcançou as fronteiras intelectuais, que estudam constantemente iluminadas pelo plano espiritual.

Fundamentalmente o princípio maior na Umbanda é a prática da caridade material, social e espiritual.

Na Umbanda são consagradas sete linhas que englobam todas as forças cósmicas através da lei das afinidades.

O sétimo raio cósmico de Deus é comandado pelo Arcanjo Camael, que ilumina a Linha de Ogum.
Linha de Ogum é a Força da Lei Maior:
Chefiada por São Jorge que se divide em sete legiões.

São elas:
Ogum Beira Mar (inclusive Ogum Sete Ondas) que faz ronda da beira da praia até o alto mar;
Ogum Rompe Mato participa das energias das matas;
Ogum Megê lida diretamente com a Linha das Almas;
Ogum Naruê trabalha com toda a sabedoria contra todos os trabalhos de magia negra;
Ogum Matinata defende os campos de Oxalá, seu domínio é o espaço sideral;
Ogum Yara é a falange que ronda os rios, lagos e cachoeiras, tem sincretismo com Santa Joana D'Arc;
Ogum Delê ou Dilei - esta falange efetua sua ronda sobre o mundo. É a própria lei que liberta-nos das batalhas de diversas encarnações que interferem em nossa evolução espiritual.

A Umbanda une todos os fundamentos em diversas linguagens, mas é a força que reúne seus filhos diante do altar louvando a beleza da fé, que era a afirmação de São Jorge diante de todos os combates contra o mal da intolerância. O bom combate é carregar a bandeira do amor respeitando todos os irmãos nos seus princípios de fé.

* Este texto é de autoria do Sr. José Octavio N. Passos assessorado pela Diretora Espiritual Elizabeth M. N. Passos, da "Fraternidade Socorrista Mãe Yemanjá e Baiano Zeferino".


INCOMPARÁVEIS



Ninguém é superior, ninguém é inferior, mas ninguém também é igual. As pessoas são simplesmente únicas, incomparáveis.
Você é você, eu sou eu. Tenho que contribuir com o meu potencial para vida; você tem que contribuir com o seu potencial para a vida.
Tenho que descubrir o meu próprio ser; você precisa descobrir o seu próprio ser.


Osho,
In  "From Bondage to Freedom"
 foto por Daniel ... will 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

FAZER VERSOS




- Sim, custou muito.
Foi preciso, primeiro, que eu fosse bem criancinha
ainda e chorasse muito sem saber por quê...E mais
tarde...
...que eu descobrisse o arco-íris, achasse lindo,
mas lhe desse as costas para compreender o sol.
E depois...
...que eu aprendesse a ler e a escrever, achando
interessante o desenho das letras, suas curvas e suas
retas. E então...
...que eu começasse a dizer as palavras e a gostar
delas, independentemente do seu sentido, apenas pela
sua musicalidade. E por isso...
...que eu procurasse saber como foi e para o que
foi que elas nasceram, e por que, e onde, e quando.E,
pois...
...que eu percebesse serem elas multiformes,variando,
segundo o tempo e o espaço e a boca das
raças diferentes que as dizem.E no entanto...
...que eu entendesse ser a sua forma, na grafia e
no som, isto é, o seu espírito.E este era preciso...
...que eu achasse parecido com aquela,como a
alma se parece com o corpo.E, baseado nessa harmo-
nia...
...que eu elegesse a expressão exata, capaz de ex-
primir qualquer coisa...
...que eu criasse e guardasse em mim, fechada, 
secreta,proibida,porque me pareceu imortal.Mas,
para que não morresse ela comigo...
...que eu tivesse a coragem de tirá-la do meu mundo
e revelá-la e entregá-la ao mundo de todo o mundo.
E agora...
...que, retrocedendo, voltasse eu à criancinha que
fui, chorando muito,sem saber por quê.

***

Isso, aí em cima, para responder à pessoa amiga 
que me perguntou ,outro dia,se me custou muito
fazer o meu primeiro verso.

Guilherme de Almeida
09.09.1961

terça-feira, 19 de abril de 2011

CRENÇA




Crença e não-crença fazem parte do humano. Não são coisas estranhas. Podem, portanto, conviver perfeitamente.

Ou a pessoa é crente (a maioria dos brasileiros, segundo as pesquisas), ou não é. Dificilmente um crente convencerá um descrente a mudar suas convicções, e vice-versa. Os argumentos podem ser lógicos e/ou fervorosos, mas, independentemente de raciocínio, a decisão é tomada nos escaninhos mais profundos e misteriosos da mente, e de uma maneira que mal podemos compreender. No extremo, esta diferença pode levar a conflitos às vezes sangrentos. O "crê ou morre" não foi, e não é, raro na história da humanidade. No Iraque, barbeiros correm risco de vida. Por quê? Porque raspam ou aparam barbas, o que para os fundamentalistas é crime. De outro lado, as perseguições de regimes políticos contra religiões estabelecidas também podem ser ferozes.

As pessoas que não crêem tendem a amparar-se nas razões do intelecto ou da ciência. Sua atitude em relação aos crentes, não raro, é de condescendência, quando não de franco desprezo. Mas a crença religiosa representa um amparo impressionante; seu poder transparecia na fisionomia das pessoas durante a visita do Papa. Entrevistadas, falavam da intensa emoção que estavam vivendo e que certamente compensava muitas das frustrações do cotidiano. Mais que isto, o amparo que resulta da fé tem expressão até orgânica; trabalhos científicos mostram, de forma consistente, que crentes resistem melhor a doenças e que sua sobrevivência, em situações graves, é maior.

Diante disso, conclui-se que a palavra-chave, em matéria de crença (e em matéria de muitas outras coisas), é tolerância. Os não-crentes devem aceitar o fato de que muitas pessoas acreditarão em Deus, em milagres, na vida após a morte. E os crentes precisam aprender a respeitar a posição daqueles que não acreditam. Cada um tem o direito de agir conforme suas convicções; e a liberdade alheia deve ser respeitada. A viagem do Papa ressuscitou algumas antigas polêmicas neste país.

Polêmica, como demonstra o Lauro Quadros diariamente na Rádio Gaúcha, não prejudica ninguém. Violência prejudica. Bater boca? Ótimo. Bater nos outros, matar os outros, queimar os outros - negativo.

Sou humano e nada do que é humano me é estranho, disse o pensador latino Terêncio. Crença e não-crença fazem parte do humano. Não são coisas estranhas. Podem, portanto, conviver perfeitamente. Desde que as pessoas se aceitem mutuamente tais como são.
 
Moacyr Scliar

segunda-feira, 18 de abril de 2011

AMANHECER





Amanhecer: o mais antigo
sinal de vida sobre a Terra.
Amanhecer: ainda o mais novo
sinal de vida sobre a Terra.
Amanhecer e vida humana
se entrelaçam na mesma luz.

Carlos Drummond de Andrade
In Poesia Errante
foto de  Fer Nespolo

DE PASSARINHOS





Para compor um tratado sobre passarinhos
É preciso por primeiro que haja um rio com árvores e
palmeiras nas margens.
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos goiabeiras.
E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.
O azul é muito importante na vida dos passarinhos.
Porque os passarinhos precisam antes de belos ser eternos.
Eternos que nem uma fuga de Bach.

Manoel de Barros
In Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo
foto de Hegtor

PONTO DE VISTA




Vamos meditar...Tudo que nos rodeia está em constante
perigo.Não há mais educação, opinião,deveres;ostentações
por toda parte, funesto individualismo.Afastando-se do
verdadeiro ideal, cada qual se julga superior aos demais,
ninguém respeita ninguém.
O filho torna-se irreverente com o pai, os alunos com
seus mestres, e o mais grave é que, em meio da mais profunda
imoralidade, se consideram NORMAIS pela evolução atual
dos costumes.

O que poderemos fazer para reverter esta situação?

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo
foto de GionnyWeb

ORAÇÃO




Que Deus não permita que eu perca o romantismo,
mesmo eu sabendo que as rosas não falam.
Que eu não perca o otimismo,
mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.
Que eu não perca a vontade de viver,
mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...
Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos,
mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...
Que eu não perca a vontade de ajudar as pessoas,
mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.
Que eu não perca o equilíbrio,
mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.
Que eu não perca a vontade de amar,
mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...
Que eu não perca a luz e o brilho no olhar,
mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...
Que eu não perca a garra,
mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.
Que eu não perca a razão,
mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.
Que eu não perca o sentimento de justiça,
mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.
Que eu não perca o meu forte abraço,
mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...
Que eu não perca a beleza e a alegria de viver,
mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca o amor por minha família,
mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.
Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração,
mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.
Que eu não perca a vontade de ser grande,
mesmo sabendo que o mundo é pequeno...
E acima de tudo, que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente,
que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e
transformar qualquer coisa, pois a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

Chico Xavier
                                                                   foto de GionnyWeb

domingo, 17 de abril de 2011

SABEDORIA E CONSELHOS PARA TODOS


Todos podemos ser felizes.Para isso, sigamos
tranquilamente, através do ruído e da pressa,
e nos lembremos de que a paz, a imensa paz,
pode estar no silêncio.
Tanto quanto possível, estejamos de bem com todas
as pessoas.Digamos a verdade com calma e clareza e
escutemos os outros, mesmo que impertinentes e
 ignorantes.
 Cada qual tem sua história...Sejamos nós mesmos;
 principalmente, não finjamos afeição, nem sejamos cínicos com
o amor...Apesar de toda a aridez e descaso, ele nasce sempre
de novo, como a grama. Aceitemos bondosamente a prudência dos anos,
abrindo mão graciosamente das coisas da juventude, nutramos com força
 o espírito para que nos ampare nas desgraças imprevistas. Mas não nos 
 angustiemos com fantasias...Muito medo nasce da fadiga e da solidão.
Por trás de uma sábia disciplina, sejamos sempre indulgentes
conosco mesmos.Somos filhos do universo, tanto quanto as árvores e as
estrelas. Temos o direito de estara qui, nunca duvidemos do universo que
se encontra para nós aberto como realmente deve.
Este mundo, com tanto fingimento, dureza e sonhos frustrados, é, no entanto,
ainda um mundo encantador.

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo
Foto por GionnyWeb


O QUE É MÚSICA?



Quem se dedica à música, que é a Divina Arte, se completa espiritualmente  e transmite serenidade.
A música é um fenômeno universal, uma linguagem que todos entendem. É uma corrente de elos que se transformam em união.
Pitágoras, o grande filósofo grego, no século 6 A.C. já considerava a música uma dieta para a alma.
A música é velha como a humanidade; é como a dança, a mais velha de todas as artes.
Certa feita, um aluno perguntou a um professor: o que é música?
Ele respondeu: a música é um fenômeno acústico para o prosaico; um problema de melodia, harmonia e ritmo para o teórico; é o desabrochar das asas da alma, é a realização de todos os sonhos e anseios para quem a ama...
É nos momentos de tristeza e pensamentos obscuros que devemos ouvir músicas. Além de nos relaxar, a música é a representação da harmonia universal e está ao alcance de todos, como a conclamar que nos devemos unir, numa união fraterna e harmoniosa, formando elos indestrutíveis,que nos tornarão mais amigos e mais felizes neste mundotão cheio de surpresas angustiantes...

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo
tela de Gaetano Gandolfi / Saint Cecilia, 1791

LENDA




Lendo histórias de Malba Than, com suas lendas
 árabes, que são verdadeiros casos de muita sabedoria e
ensinamento, lembrei-me de uma narração do livro de Provérbios
do Velho Testamento.
Havia um sábio em Bagdá que dizia: cada vez que colocamos
em liberdade um pássaro cativo, praticamos três atos de caridade.
O primeiro, para com a avezinha, retituindo-lhe a vida ampla, livre, que lhe
havia sido roubada; o segundo, para nossa consciência e o terceiro
para com Deus!
Perguntou então o Sheik ao sábio: e se eu der liberdade a todos,
que são 496, que tenho no viveiro? Que benefício terei?
Respondeu-lhe o  sábio: asseguro-vos que se soltardes os
496 pássaros praticareis mil quatrocentos e oitenta e oito atos
de elevada  caridade!
O Sheik mandou os empregados soltarem os pássaros,
que se espalharam pelos arredores do jardim.Cada ave
com as asas estendidas eram um livro de duas páginas abertas
 no céu.

Vamos dar liberdade às aves cativas...

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo
foto de GionnyWeb  

ESPIRITUALIDADE E ECOLOGIA



A destruição de rios, lagos,florestas e a poluição nas
cidades verificam-se atualmente em todo o mundo;
são uma consequência do esquecimento da dimensão
sagrada da natureza.
O sol, a lua,as estrelas,as florestas, o mar, as montanhas
e as planícies possuem um significado material,mas têm
também, e antes de tudo, um caráter simbólico espiritual.
Pura, bela e magnificante, a natureza é um templo do
homem primordial.É um santuário distante do ruído e da
agitação do mundo, e nos aproxima de Deus.
Os sábios de todas as civilizações e de todas as épocas
sempre buscaram a natureza inviolada; a chuva e a água, em geral, são os símbolos da graça divina.
O sol é a imagem de Deus, por ser um ponto irradiador de luz e calor que matém a vida do homem e do planeta.
O homem moderno, ao contrário disso, vê a natureza como um inimigo a conquistar. No entanto, foge dos ambientes artificiais que criou nas grandes cidades e sempre que possível segue rumo à praia ou ao campo, onde busca não apenas ar puro, mas também paz e relaxamento para a alma!

"Será que ainda poderemos retroagir e refletir sobre o assunto?"

Ozório Cândido Ferreira
In Eu no Mundo
foto por GionnyWeb